O sistema de crenças que mais fragiliza do que protege as organizações
Durante a era Reagan, muitas das decisões tomadas na Casa Branca tinham a influência de uma especialista não muito comum em assuntos políticos. Os rumos do governo americano passavam pelo crivo da astróloga Joan Quigley, falecida no ano passado com 87 anos. A senhora Quigley era constantemente requisitada pela primeira dama Nancy Reagan (quem realmente mandava naquela casa) para consultar aos astros e orientar o presidente sobre quais riscos evitar. A atividade da astróloga foi um dos segredos mais bem guardados durante quase toda administração Reagan e a história somente se tornou pública em 1988 por meio de um ex-funcionário do governo que achava aquilo tudo um absurdo. Lógico que a astróloga faturou muito com o vazamento da história.
O mais interessante é que o mundo vivia um dos momentos mais bizarros da guerra fria. O próprio governo Reagan tinha o objetivo de implementar uma base de misseis nucleares no espaço. A “Strategic Defense Initiative (SDI)” que tinha o apelido de “Guerra nas Estrelas” se baseava no princípio teórico chamado de “Mutual Assured Destruction – MAD” o que de modo bem simples quer dizer: se o seu adversário possui um determinado poder de fogo, incremente o seu poder de modo que tanto ele quanto você sejam destruídos no caso de um ataque e se mostre disposto a usar tudo. Assim você desestimula o seu inimigo a atacá-lo.
Os acadêmicos do MAD conseguem provar isso com equações complicadas e realmente houve uma ocasião, poucos anos depois da crise dos mísseis em Cuba em que a MAD foi usada, o mundo quase acabou e quase ninguém ficou sabendo.
A astrologia já guiou vários líderes na história. Mas embora muita gente acredite nisso eu não consigo considerar plausível que a posição dos planetas no firmamento quando eu nasci possa guiar as minhas características pessoais. O universo é muito grande e se isso fosse mesmo verdade teríamos que considerar muitos outros astros nessa dança gravitacional. Prefiro ficar com a definição de Carl Sagan de que a astrologia “desenvolveu-se para uma disciplina estranha: uma mistura de observações cuidadosas, matemática e manutenção de registros com um pensamento indistinto e uma fraude devotada”.
Penso que a astrologia, assim como outras pseudociências ou terapias holísticas, oferece um tipo de conforto para a escolha de um caminho dentre diversos outros. Algo que conecta o nosso poder de decisão ao universo, de maneira que caso o caminho dê errado, é mais fácil transferir a responsabilidade para esse ente maior que coordena o fluxo da existência.
O astrólogo acaba sendo uma pessoa que possui um discurso generalizante, de modo a abarcar os mais variados tipos de pessoas e ao mesmo tempo se utiliza de técnicas com o objetivo de dar um ar personalizado a essas mensagens, para aqueles que o pagam.
Usando esse raciocínio como uma analogia, considero que muitas das decisões tomadas no dia a dia daqueles que atuam em segurança da informação seguem esse fluxo astrológico. Ou seja, muitos dos que lidam com essa disciplina dedicam tempo, esforço e muito dinheiro seguindo astrólogos que lançam modismos sem cessar, sendo que a maioria não resulta na proteção das informações.
Sem refletir, esses profissionais acabam mergulhando em um sistema de crenças e caso algo dê errado a salvação está em alegar que se seguiu as “melhores práticas do mercado”. Tenho muitas reservas a essas crenças e pretendo apontar abaixo algumas das suas contradições.